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sexta-feira, março 04, 2005

O terno do fantoche

Chico acordava religiosamente às seis da manhã. Sem café e companhia, partia à procura de emprego sempre com o mesmo envelope pardo entre os braços , que outrora escondia seu desejo de ser chamado de doutor.
A vida fez de Chico um mosaico de ofícios, sem a patente da notoriedade. Era especialista em adaptação vocacional, um tipo de adestramento para humanos em que recorriam os menos aptos da multidão. Sem o poder de escolha, ele se misturava em meio a insanidade das ruas e, entre um esbarrão e outro, passava como um fantasma à espera de alguém que o chamasse pelo nome. A frustração não era simplesmente o anonimato. O reconhecimento para ele encurtaria a distância do passado promissor e o futuro dilacerado pelo pão de cada dia.
Chico estudou o suficiente para entender o valor do silêncio. Quando foi cobrador de ônibus de uma linha central, ignorava os inúmeros “bom dias” para se atentar ao valor exato do troco. Seu contato com o mundo se refletia por aquele espelho convexo que tornava todos à sua altura. Via o corre-corre das massas num estado quase mecânico. Diferente das ruas, ali sentado Chico temia o reconhecimento e, quando raramente ocorria, fingia ter um compromisso sólido com o letreiro ao seu lado: “ converse somente o necessário”.
Antes de cobrador, Chico teve uma experiência como porteiro. Só aceitou o cargo porque era a quilômetros de sua residência e porque havia no anúncio um expectativa de crescimento para síndico. Lá ele era o seu Francisco e demorou meses para acreditar em todos que se diziam moradores. Ignorava a informalidade para se mostrar um bom profissional, mesmo com a insistência de alguns em criar intimidade. Logo foi demitido por impedir a entrada de uma dama da alta sociedade. Até para ir embora o velho Chico se mostrou contundente com a responsabilidade. Esperou o seu substituto chegar para se gabar da experiência e arriscar uma pontinha como professor.
Quando foi animador de um posto de gasolina, vestido numa calorosa fantasia de urso, Chico perdeu o medo de se expressar. Camuflado pela roupa, ele distribuía beijos para todos dando a impressão de que o sorriso do urso era o reflexo de sua alegria. Ao ir embora, o abatimento e o cansaço ficavam visíveis sem a máscara, mas o consolo era poder no dia seguinte ser o urso sorridente novamente.
Numa de suas corridas por emprego, ele foi pego de surpresa por um convite de um amigo: trabalhar como auxiliar num escritório de advocacia. A euforia foi tamanha que, apesar das poucas finanças, Chico arranjou um convincente argumento para comprar um belo terno. Se misturava aos homens de lei como antes se misturara ao povo. Ia de agenda e celular e ressuscitou o velho hábito de fumar após as refeições. Após um longo período exercendo metodicamente algumas atividades, Chico ganhou a chance de comandar um departamento. Confuso e atordoado, ele viu seu sonho escapar entre os dedos. Recusou a oportunidade, pediu demissão e deixou um bilhete: “quem nasceu pra lagartixa nunca chega a jacaré”.

Escrito por: Henrique Nunes

OBS: Pra quem não se lembra, o Henrique é aquele que escrevia o Clóvis Camargo comigo... Infelizmente, por incompatibilidade total de horário, assumi o projeto sozinho. Mas não me canso de elogiar o talento desse rapaz.
Há tempos estou devendo um texto dele. Logo virão outros.